segunda-feira, 21 de maio de 2012

Caro João,

Pode a vida toda ser como uma gargalhada?

Dessas em que a barriga se dobra, os dentes ficam à mostra e toda a emoção pode acabar nos olhos, embaçando a visão, numa sensação extasiante de alegria? Ou é preciso conviver com as rugas da decepção, com a imparcialidade do medo, a vergonha da desordem?

O tempo passa e é como uma fuga de Bach, forte e triste, mas insuportavelmente linda.

A felicidade pode ser um domingo à tarde, sentado em volta de um caixote de madeira, enquanto rimos das nossas imperfeições, ao rirmos das imperfeições alheias.

O clown de nós mesmos incorpora a cena:

Personagem 1: Ele disse que ela disse que ele disse que tu és um cara bacana.

Personagem 2: Ele disse que ela disse que ele disse que tu és um cara "oquêi".

E rimos disso e de todo o resto, enquanto o tempo passa.

Flashback: vou atravessar a sala e tem um tigre no meio. Acaricio sua cabeça e ele come meu braço. Miro seus lindos olhos claros e ele me diz: "Vou comer o resto. Não hesite!".

Brincamos de roda, em volta do caixote de madeira, bebendo levedo e trocando de posições, enquanto o tempo passa. Enquanto celebramos um sentimento que não é dito, mas é quase palpável de tão concreto. É o léxico do abstrato.

Pena que a vida toda não é uma gargalhada.

E talvez em alguns dias mais, aquela gargalhada possa transformar-se num eco de desespero.

É como se eu escrevesse no meu diário: Hoje foi igual a ontem. Mas eu não tenho diário, nem semanário, nem anuário. Nem bienal.

Talvez tu não entendas sobre o que eu estou escrevendo. Talvez tu entendas um dia. Talvez tu nunca chegues a ler até aqui.

Mas é isso. Nem tão bom, nem tão mal: é o vértice da mediocridade.

12 comentários:

  1. Ameeeeeeeeeeeeeei...Sou sua fã ;)

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  2. Pena que a vida toda não é uma gargalhada....mas isso faz parte...Show....

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  3. Muito, muito lindo! Acho que o blog talvez seja um instrumento de fazer com que o Borba exerça aquilo que ele faz tão bem: ESCREVER. Porque a arte da literatura´, como diria Hesse “Ce flacou de vieux Bourgogne, pour tenir tête à la mélancolie”, ou seja, “Uma garrafa de velho Borgonha, para enfrentar a melancolia”. Giane

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  4. Já sei o que você fará nos dias em que fica em casa pensativo... Realmente, o primeiro blog a gente não esquece, mesmo que ele seja o vértice da mediocridade. E diz pra Giane largar de ser fresca e parar de escrever as coisas em francês, porque quem vê pensa que ela foi educada lá rsrsrs. Beijo grande. Amei o blog e serei seguidora

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  5. pois é.
    vc já é praticamente um pop star.
    seis comments em menos de 24 horas de vida?!
    escreva-me mais!
    vida longa às correspondências do joão.
    ;o)

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    1. É a estreia... Mas, honey, é prazer tê-la lendo as cartas do João.

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