quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Hoje eu acordei tão só

Caro João,

Hoje eu acordei só.
Mais só do que eu merecia, como diz o poeta.

É, eu sei. Era corpo, não era alma.
São as dores da doença, João. As cicatrizes da ausência.
Talvez eu mereça porque não enxerguei o que era óbvio. Esqueci que o amor tem muitos disfarces.
São as lezeras da solidão.
Eu me arrasto nessa cama sem querer presença. Porque a noite é insone. Porque o sonho é recortado pela angústia de tantas palavras não ditas, de tantas cartas não escritas, tantas coisas nas gavetas, tantos sim-não sem sentido, tantos nomes nunca ditos, tantas sujeiras varridas, tantos silêncios sufocantes, tantos mesmos, tantos mesmos.

Só você que entende, João. Esse discurso sem nexo, essas elipses e seus significados. Essa carta para o mundo.